Nos últimos tempos, a NR-1 virou pauta constante no universo corporativo, e por bons motivos. A norma, que sempre foi a base das diretrizes de segurança e saúde no trabalho, agora vai além da proteção física: ela passou a incluir também os riscos psicossociais como parte essencial da jornada laboral.
Esse olhar mais completo sobre o bem-estar do colaborador chega em um momento crítico. Em 2024, o Brasil bateu recordes com mais de 472 mil afastamentos por transtornos mentais. Um sinal de alerta para empresas que ainda subestimam o impacto do estresse, da ansiedade e do burnout no ambiente de trabalho.
Mas, para o RH, a NR-1 não precisa ser só uma obrigação legal. Ela pode (e deve!) ser encarada como uma aliada estratégica, promovendo ambientes mais humanos, saudáveis e produtivos.
Vamos juntos entender o que muda e como transformar essa norma em ação dentro da sua empresa?
- O que é NR-1?
- O que mudou nessa norma em 2025?
- Adiamento da NR-1
- O que são riscos psicossociais?
- O que a NR-1 exige na prática?
- Como a empresa pode se preparar para a atualização da NR-1?
- E se a empresa ignorar a NR-1?
O que é NR-1?
Quando o assunto é segurança e saúde no trabalho, a NR-1 é o ponto de partida. Essa norma estabelece as diretrizes gerais que garantem ambientes mais seguros, saudáveis e organizados.
A missão da NR-1 é direta e fundamental: orientar empresas e colaboradores sobre seus direitos e deveres, com foco na prevenção de acidentes, doenças ocupacionais e, agora, também dos riscos psicossociais (aqueles que afetam diretamente a saúde emocional das pessoas).
O que mudou nessa norma em 2025?
A principal novidade é que a norma passou a exigir a avaliação e o gerenciamento de riscos ocupacionais. Em outras palavras, além dos cuidados com a proteção física, as empresas agora precisam considerar também aspectos emocionais e sociais do ambiente de trabalho, como estresse, sobrecarga, assédio e ansiedade.
Essa atualização acompanha uma realidade que já está batendo na porta das organizações: um cenário em que o cuidado com a saúde mental é urgente e indispensável.
Adiamento da NR-1
Embora a atualização da NR-1 estivesse prevista para entrar em vigor em 2025, o governo decidiu adiar as novas exigências — incluindo a obrigatoriedade de considerar os riscos psicossociais no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos).
Com a publicação da Portaria MTE nº 765, de 15 de maio de 2025, a nova versão da norma só deve valer a partir de 2026. Até lá, o texto anterior segue vigente, e nem mesmo a aplicação em caráter educativo será exigida, como chegou a ser informado anteriormente.
Na prática, isso significa que o gerenciamento de fatores emocionais ainda não é obrigatório por lei dentro do PGR. Mas calma: isso não isenta as empresas da responsabilidade legal sobre a saúde mental de seus colaboradores.
Esse adiamento pode até representar um respiro nos prazos, mas também levanta um alerta: deixar para depois pode ser um retrocesso diante da crise de saúde mental que já afeta milhares de trabalhadores.
Além disso, o governo se comprometeu a lançar um guia específico sobre riscos psicossociais, seguido por um manual técnico mais completo nos próximos meses. Entretanto, sem a norma atualizada em vigor, esses documentos ainda não terão força regulatória.
Ou seja, a responsabilidade continua sendo das empresas. E o RH tem um papel fundamental em manter o cuidado ativo, mesmo diante do adiamento oficial.
O que são riscos psicossociais?
Diferente dos riscos físicos, que a gente vê e mede, os riscos psicossociais são invisíveis, mas nem por isso menos perigosos. Eles estão ligados à forma como o trabalho é organizado, às relações interpessoais e às condições emocionais vividas no dia a dia corporativo.
Esses fatores podem causar desconforto, estresse, insatisfação e, em cenários mais graves, levar ao desenvolvimento de transtornos mentais e outras condições sérias de saúde.
Os riscos psicossociais costumam surgir de situações como:
- Organização deficiente do trabalho: tarefas mal distribuídas, sobrecarga, horários excessivos, falta de clareza e autonomia;
- Relações interpessoais negativas: conflitos constantes, comunicação falha, assédio moral e ausência de apoio emocional;
- Condições precárias de trabalho: falta de recursos, infraestrutura inadequada e sensação de abandono;
- Gestão ineficaz de mudanças: comunicação truncada sobre novidades, clima de incerteza e ansiedade durante reestruturações.
O que a NR-1 exige na prática?
Muito além de um documento técnico, a NR-1 delimita deveres claros para os empregadores e convida o RH a ser um elo fundamental entre cuidado e conformidade.
Alguns pontos de atenção que a norma prevê:
Informação transparente é regra
Empresas devem manter trabalhadores e empregadores bem informados sobre os riscos do ambiente de trabalho, as medidas adotadas para mitigá-los e até os resultados de exames médicos e avaliações ambientais.
Ordem de serviço é obrigatória
A NR-1 também exige que as empresas elaborem e comuniquem ordens de serviço com orientações específicas sobre segurança e saúde no trabalho. Isso precisa ser claro, acessível e aplicado na rotina dos times.
A importância da prevenção
A lógica da NR-1 é: evitar para não precisar remediar. A prioridade deve ser sempre eliminar os riscos. Quando isso não for possível, entrará a proteção coletiva. E, só por último, os equipamentos de proteção individual (EPI).
Abertura à fiscalização
Tanto representantes dos trabalhadores quanto auditores do trabalho devem ter acesso total às informações sobre segurança e saúde.
Em caso de acidente
A empresa deve estar pronta para agir imediatamente diante de acidentes ou doenças ocupacionais, investigando causas, corrigindo falhas e ajustando processos para evitar reincidências.
Combate ao assédio e à violência
Para empresas com CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), a NR-1 também cobra ações efetivas contra assédio sexual e outras formas de violência. Isso inclui regras claras de conduta, canais de denúncia e treinamentos periódicos para todos os níveis da empresa.
Como a empresa pode se preparar para a atualização da NR-1?
1. Faça um diagnóstico
Use ferramentas estruturadas para mapear riscos psicossociais com profundidade. Isso significa aplicar questionários validados, ouvir diferentes níveis da organização e transformar dados em plano de ação.
2. Treine quem precisa liderar a mudança
Invista desde já em formações específicas para gestores, focadas em empatia, escuta ativa, prevenção de assédio e gestão emocional de equipes.
3. Envolva as áreas certas
A adaptação à NR-1 não é uma missão solo do RH. É uma pauta multidisciplinar, que deve envolver jurídico, compliance, segurança do trabalho e, principalmente, a alta liderança. Quando o topo muda, a cultura muda junto.
4. Revise (ou crie) políticas internas
Aproveite esse tempo para atualizar manuais, criar protocolos claros de denúncia, reforçar códigos de conduta e incluir a saúde mental como parte formal da estratégia de gestão de pessoas.
5. Comece, ou fortaleça, programas de saúde mental
Se sua empresa ainda não tem iniciativas consistentes de apoio emocional, agora é a hora de se estruturar com parceiros confiáveis, planos contínuos e métricas de impacto.
Além disso, o benefício corporativo TotalPass cuida da saúde mental e física dos colaboradores quando implantado, colaborando assim com a preparação da empresa para essa nova norma e com o bem-estar das equipes.
E se a empresa ignorar a NR-1?
Deixar a NR-1 de lado pode parecer, à primeira vista, uma forma de “ganhar tempo”. Mas o tempo perdido cobrando agilidade dos times e ignorando os riscos psicossociais pode prejudicar a organização.
Prejuízo à imagem e à reputação
Empresas que negligenciam o bem-estar dos colaboradores correm o risco de manchar sua marca empregadora. Isso impacta diretamente a atração de talentos, gera ruído com a mídia e prejudica parcerias estratégicas, especialmente em um mundo corporativo que valoriza cada vez mais ESG e responsabilidade social.
Perda de competitividade
Ambientes de trabalho tóxicos aumentam o turnover, reduzem a produtividade e minam a motivação. No fim do dia, empresas que não cuidam das pessoas ficam para trás, porque simplesmente não conseguem manter seus melhores talentos nem inovar com consistência.
Risco jurídico escalonado
Uma infração isolada pode até parecer pontual. Mas a falta de conformidade com a NR-1 costuma vir acompanhada de uma cadeia de problemas: ações trabalhistas, denúncias anônimas, fiscalizações recorrentes e, em casos extremos, processos criminais contra os gestores.
Paralisações e caos operacional
Não seguir as diretrizes da norma pode resultar na interdição de setores inteiros ou suspensão de atividades, comprometendo entregas, contratos e faturamento. Em vez de correr para apagar incêndios depois, o melhor caminho é antecipar ações.
Cuidar do bem-estar no ambiente corporativo deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade. Empresas que entendem isso saem na frente, não apenas em indicadores de produtividade ou retenção, mas em cultura, pertencimento e sustentabilidade.
Promover saúde mental e qualidade de vida no trabalho é uma escolha estratégica, mas, acima de tudo, é uma escolha humana. E quando a empresa olha para as pessoas com responsabilidade, empatia e seriedade, todo o ecossistema colhe os frutos: colaboradores mais engajados, líderes mais preparados e resultados mais consistentes.
Porque, no fim das contas, um ambiente saudável não nasce por acaso: ele é construído todos os dias, com decisões conscientes e ações que colocam as pessoas no centro.